"Ei, qual´é?"
Ele disse em miauês.
E aquele rabo preto, pontinha aleijada, passeava pra lá e pra cá.
"Você fala cachorrês? Converse com o Gordo. Eu só quero dormir!"
Ele sabia que não era verdade.
E eu ganhei uma mordiscadela na batata da perna, depois um tapinha no joelho vindo por trás.
E fui obrigada a ver aquela bundinha seca, preta, de um gato que deveria ser caseiro, gordo, correndo de uma forma balançante.
Sentei no sofá.
Ele voltou. Sentou-se no tapete. Deu-me um beijo de língua de lixa.
Assim são os gatos.
Ele só me queria dizer que me ama e que estaria lá ainda que eu não pudesse - ou que ele não pudesse - entender o que eu digo.
E eu não disse.
Só lhe fiz um carinho.
Ele queria mais.
Subiu no braço do sofá tão logo dediquei aquela mão a um copo...
Ganhei outra mordiscadela.
(Se é que essa palavra existe em mineirês!)
E ele deixou claro o que queria dizer:
"Ei Cris, dar um carinho conforta mais do que receber..."
Tentarei lembrar-me disso.
Em miauês, pelo menos...