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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Abdução

Se fui abduzida não sei, se foi sonho, me respondam vocês. Só sei o que me aconteceu, em realidade ou não. Uma figura feminina, que trazia uma cruz no peito e me dizia viver em razão do amor de Cristo, fez votos de castidade, de pobreza e de servir aos pobres. Este ser me convidou para abraçar sua causa: cuidar de crianças em um abrigo. Crianças abandonadas, vítimas de abuso e de maus tratos: “Precisamos de pessoas que saibam amar”. E me falou tanto de amor que senti vontade de me entregar a esta missão. Fui, com a cara e a coragem. E acreditava que tinha amor no coração.

Dezoito crianças moravam ali. Cada uma com uma história que se entrelaçou à minha. Cada rostinho, cada mãozinha, cada pessoinha daquela me pedia o tão falado amor. Muito intenso, muito profundo. Poucos dias que me fizeram acreditar que eram anos. Não havia brinquedos pela casa, porque em nome do amor, não podiam bagunçar a casa. O bebê de nove meses passava todo o dia amarrado ao carrinho. Não podia ir para o tapete se exercitar porque em nome do amor, bagunçaria a casa. 

Não se tratava a uma criança dessas com olhos nos olhos, com carinho e respeito, porque em nome do amor, a severidade é que mantém o controle. Tudo obrigatório, entre gritos e solavancos. Por que é assim que se aprende a amar. Em nome do amor, se aplica castigos severos, controla a comida, manda uma criança de quatros anos limpar o próprio vômito. É assim que se ama. A brinquedoteca, muito bem equipada com as doações, fica abandonada. Não se pode brincar. Criança tem que ficar sob pressão. É assim que se educa.

Sim, eu questionei. E aquela mesma figura me disse: “Não vá pela psicologia, porque esta prioriza a criança. Aqui a prioridade é a casa em ordem para receber aos que têm condições econômicas de ajudar a instituição”. “Não os leve para brincar porque vão ficar muito agitados e você vai perder o controle”. “Se você perceber que alguma criança aqui é capaz de denunciar o que acontece aqui, lhe castigue. Proíba as visitas. Tranque-a só na casa ou a deixe a noite lá fora”.

As crianças me pediam para ficar e me perguntavam se tudo mudaria. Eu quis ficar, eu quis mudar. Mas me faltou esse amor que não compreendo. 

Se esse texto estivesse escrito em um papel, eu pediria a vocês que o rasgasse em mil pedaços e o jogassem no lixo úmido. Porque um papel que carrega tatuado em si um texto de quem não sabe amar não merece ser reciclado. Deletem-me, ignorem-me, denunciem-me, por favor! Façam uma fogueira bem grande para queimar o meu corpo insano e libertar o meu espírito mundano. 

Aos que conhecem esse amor que não compreendo peço um favor: orem por mim, me exorcizem, me convertam! Porque a minha alma está inquieta e o meu coração sangrando. Porque eu não vou à igreja, não me sinto bem porque dou esmolas aos pobres, não carrego as migalhas da farta mesa de Natal para os moradores de rua. Por favor, me exorcizem porque não consigo ver a Cristo nessas atitudes e muitas vezes, indignada peço a Ele: Por favor, Jesus, mude seu nome, porque não quero ser cristã.  
Rosi Santiago.

[http://www.facebook.com/photo.php?fbid=466963113317486&set=a.176349932378807.53837.100000114040606&type=1]
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quinta-feira, 8 de março de 2012

Noir



"Ei, qual´é?"
Ele disse em miauês.

E aquele rabo preto, pontinha aleijada, passeava pra lá e pra cá.
"Você fala cachorrês? Converse com o Gordo. Eu só quero dormir!"

Ele sabia que não era verdade.

E eu ganhei uma mordiscadela na batata da perna, depois um tapinha no joelho vindo por trás.
E fui obrigada a ver aquela bundinha seca, preta, de um gato que deveria ser caseiro, gordo, correndo de uma forma balançante.

Sentei no sofá.
Ele voltou. Sentou-se no tapete. Deu-me um beijo de língua de lixa.
Assim são os gatos.

Ele só me queria dizer que me ama e que estaria lá ainda que eu não pudesse - ou que ele não pudesse - entender o que eu digo.

E eu não disse.
Só lhe fiz um carinho.

Ele queria mais.
Subiu no braço do sofá tão logo dediquei aquela mão a um copo...

Ganhei outra mordiscadela.
(Se é que essa palavra existe em mineirês!)
E ele deixou claro o que queria dizer:
"Ei Cris, dar um carinho conforta mais do que receber..."

Tentarei lembrar-me disso.
Em miauês, pelo menos...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A diferença entre o ônibus e o carro.

No dia de hoje eu percebi, claramente, a diferença entre usar ônibus e usar o carro.

Não, eu não vou falar sobre o trânsito caótico de Vitória, ou sobre os ônibus lotados, ou sobre a espera no ponto, ou sobre os novos terminais urbanos que - como os antigos - oferecem condições mínimas de conforto.

A diferença, pra mim, hoje, se resume ao fator humano:

Estava eu parada e quieta no meu canto (kkkkkkkkk), na fila do 527, no intuito (ou sonho) de chegar à UFES até às 13h30min., quando observei que a mochila da Pucca na menina que estava à minha frente não era nem vermelha, nem preta (!).

Foi o suficiente para eu entender que deveria partilhar minha constatação (?) com ela e para iniciarmos um longo bate-papo que se estendeu até que eu descesse na UFES, mas que teria durado até que ela descesse na Serra ou até que descessemos sei lá onde, se nossos trajetos perdurassem além.

Ela ficou escandalizada com o fato de eu não conhecer os melhores "points" de Campo Grande e convidou-me a sair com seus amigos hoje à noite. Disse que são muito pirados e que eu me encontraria no meio deles já que pareço tanto quanto (?).

Juro que, se não fosse o cansaço, eu iria. Mas, lá fora tá frio demais e minha caminha tá quentinha demais.
Depois que parei de beber e de andar com loucos psicóticos (kkkkkkkkk) tenho topado menos programas undergrounds do tipo "sentar pra beber e morrer de frio num barzinho de calçada"...

Mas, daqui a pouco, volto ao normal (?)...
kkkkkkkk

RESUMO DO DIA:
Cris feliz por ter chacoalhado no Transcol como preço de uma companhia tão agradável.
Viu? Se eu estivesse no meu carro teria, como contato humano, no máximo, um xingamento dirigido, de vidros fechados, ao motorista ao lado.
A vida é bela, mesmo que o 748 nunca esteja no horário!
kkkkkkkkk

sábado, 5 de junho de 2010

Cattleya



Cada uma das pessoas que passa pela minha vida, de uma ou de outra forma, me ensinam a enxergar, de uma ou de outra forma, belezas que antes eu não via.
A minha forma de agradecer a elas é mostrar que, mesmo que eu não as tenha visto ou mesmo reconhecido no momento em que passavam, ainda assim as belezas que deixaram mexeram, de uma ou de outra forma, com a minha vida. Para sempre.

[Foto: Miltonis spectabilis fotografada por Cris Mattos em 02jun2010 na reserva da Vale, próxima a Sooretama-ES, texto por Cris Mattos em 05jun2010, às 17h57min.]
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Pucca e a Karina

Karina é um trem esquisito.
Ela espeta insetos, envelopa (essa eu só descobri ontem!) libélulas.
É louca por libélulas.
Fala muito de libélulas.
Faz aula de campo no meio do mato com os meninos dela.
Gosta de fazer aula de campo no meio do mato.
É branca-branquela.
Morre de me explicar que eu, sendo branca-branquela, tenho que pensar nos borrachudos da casa da tia dela de Santa Teresa.
Mas, Karina faz aula de campo.
E no meio do mato, deve até colecionar borrachudos também!
Não dirige.
Nunca ligou um carro antes apesar de ser fã do fusquinha do pai.
Sempre conta que um professor dela, ou um colega, sei lá, diz que "pra morrer de repente, ela levaria uma semana" de tão lenta que é.
É pós-doutora em Biologia.
Tenta, sofridamente, explicar-me a importância dos bichinhos dela (e de jogar nitroglicerina neles pra extrair o DNA) para a agricultura, ou piscicultura, ou pecuária, ou cultivo de sei-lá-o-quê!
Ela mata, espeta e estuda insetos.
Eu salvo insetos!!!
Karina vive contando as histórias da família dela e das viagens para coleta de amostras.
E eu conto sobre as minhas peripécias de adolescência, sobre minha família buscapé, sobre meu trabalho. 
Atualizo as informações sobre meu relacionamento com meu ser-humano.
E Karina conta as provações dela com o ex-ser-humano dela.
E cada dia temos histórias diferentes sobre os mesmos assuntos.
A gente vai conversando daqui até o trabalho.
E, se deixar, sobra assunto pro jantar quando chegamos com tempo para jantarmos juntas.

Ontem, Brunex foi ao trabalho comigo.
E Karina - que já tinha terminado o período de viagens das terças - foi junto pajear duas das meninas dela que ficaram de prova final.
Que alegria!
Fomos conversando daqui até lá.
Luzi e Bruno discutiam filmes de desenhos animados e lá veio Karina com mais uma: A-do-ra animação!
Qual foi a primeira frase dela quando eu comentei que "abri o bué" quando Sigourney Weaver morreu em Avatar?
--- Ah, se eu estivesse lá também ia querer coletar algumas amostras.
--- Sossega, Karina! Menos!
--- Kkkkkkkk! Mas é.

Bem, agora, além de ter que arrumar tempo pra ir a Santa Teresa com Karina, vou ter que me virar em 15 pra arrumar tempo de ir à casa dela para "coletar" filmes e seriados do HD da prima dela!!!

Gente!!! Quase esqueço da Pucca!!!
Karina é fã da Pucca.
Tem bolsa da Pucca, bolsona da Pucca, bolsinha da Pucca, carteira da Pucca, porta-moeda da Pucca...
Vício alimentado pela irmã dela.
Parece que é tradição regional "puquear" a Karina.
Bem, ontem eu segui a tradição.
Quando paramos no Casa-Brasil, o ovo que estava lá na semana anterior e que pensei comprar para ela, ainda estava.
No caixa, não pensei duas vezes.
Paguei o lanche. Paguei as moedas de chocolate de Bruno e da Luzi. Catei o ovo da Pucca.
Karina estava junto à Cláudia, lá atrás na fila.
Saí correndo até lá, joguei o ovo na mão dela:
--- Procê!
Passado o susto, ela abriu um sorrisão, daqueles de criança quando ganha brinquedo novo.
E, quando entrou na van, falou que tinha pensado em comprar aquele ovo mas pensou em não alimentar o vício.
Ficou um tempão ajustando o ovo dentro da mochila, no maior cuidado. 
Que alegria vê-la feliz!
E, dessa vez, felizmente, inseto algum foi sacrificado...
rs....